Bancário sofrendo pressão por metas abusivas? Entenda seus direitos e como se proteger

Quando o trabalho no banco vira um pesadelo
Você entra na agência, já com o estômago embrulhado. Nem tomou café direito. Na tela do computador, uma planilha com números inalcançáveis. O gerente já avisou: se não bater a meta, tem advertência. Se repetir, pode ser desligamento. A pressão é tanta que você mal consegue respirar.
Se essa cena parece familiar, saiba de uma coisa: você não está sozinho — e não está desamparado pela lei.
Neste artigo, vamos conversar de forma clara e direta sobre seus direitos como bancário e como se proteger contra metas abusivas, assédio moral e práticas ilegais que infelizmente ainda fazem parte da rotina de muitos profissionais no setor financeiro.
O que são metas abusivas no setor bancário?
Trabalhar com metas, em si, não é ilegal. O problema começa quando essas metas ultrapassam os limites do razoável e colocam a saúde física e mental do trabalhador em risco.
Metas abusivas são aquelas:
- Impossíveis de serem atingidas no tempo estipulado;
- Acompanhadas de ameaças veladas ou explícitas;
- Que geram humilhações públicas e punições;
- Que invadem o tempo de descanso, obrigando horas extras;
- Que desconsideram a realidade do mercado ou da região de atuação.
Como isso acontece na prática?
Imagine a seguinte situação:
“O gerente chamou todos para uma reunião às 7h, antes do expediente. Disse que, se não vendermos pelo menos 10 seguros por semana, vamos ‘entrar na lista’. Ninguém diz o que essa lista significa, mas todo mundo sabe que é de quem vai rodar.”
Esse tipo de abordagem, muitas vezes travestida de “motivação”, é, na verdade, coação e assédio moral.
Como identificar se você está sofrendo assédio por metas abusivas?
Assédio moral no ambiente bancário, especialmente por metas, nem sempre é fácil de identificar de imediato — ele se instala aos poucos. Veja alguns sinais de alerta:
- Você sente medo constante de perder o emprego.
- Já ouviu frases como “quem não serve, pede para sair”.
- Recebe mensagens ou cobranças fora do horário de trabalho.
- Já foi exposto ou humilhado na frente de colegas por não bater metas.
- Tem desenvolvido sintomas físicos: insônia, ansiedade, dores, queda de cabelo.
Esses indícios são mais comuns do que se imagina — e nenhum deles deve ser naturalizado.
O que diz a lei? Seus direitos como bancário
Você tem uma série de garantias legais. Vamos a elas:
📜 Constituição Federal
- Art. 1º, III: Dignidade da pessoa humana como fundamento da República.
- Art. 7º, XXII: Direito à redução dos riscos inerentes ao trabalho.
📘 CLT (Consolidação das Leis do Trabalho)
- Art. 483: O empregado pode considerar rescindido o contrato se for tratado com rigor excessivo ou exposto a situações humilhantes.
- Art. 6º: As ordens recebidas por meio eletrônico também são consideradas como controle de jornada e, portanto, podem configurar assédio fora do horário.
⚖️ Jurisprudência e TST
O Tribunal Superior do Trabalho tem reconhecido metas abusivas como forma de assédio moral, principalmente quando ligadas a práticas vexatórias, pressão contínua e cobranças que afetam a saúde mental.
Exemplo real:
Um bancário de Minas Gerais recebeu indenização de R$ 50 mil por danos morais, após comprovar que era constantemente cobrado a vender produtos bancários fora de suas atribuições e submetido a ameaças frequentes.
O que fazer se você estiver passando por isso?
Você não precisa aceitar isso calado. Existem caminhos legais e seguros que você pode seguir:
1. Documente tudo
- Guarde e-mails, prints de mensagens e gravações (em ambientes coletivos e públicos, elas são válidas).
- Registre datas e horários de reuniões abusivas ou cobranças fora do expediente.
2. Converse com colegas de confiança
- Muitas vezes, outros funcionários estão passando pelo mesmo. Depoimentos cruzados ajudam a fortalecer a denúncia.
3. Busque atendimento médico
- Se os abusos já causaram sintomas físicos ou emocionais, procure atendimento médico e peça o atestado. Ele será uma prova importante.
4. Denuncie internamente (com cautela)
- Se houver ouvidoria, registre a situação. Mas atenção: esse caminho nem sempre é seguro em ambientes muito tóxicos.
5. Procure um advogado trabalhista
- O profissional saberá analisar seu caso e indicar a melhor estratégia, seja uma ação judicial, seja uma rescisão indireta do contrato com pedido de indenização.
Rescisão indireta: quando o trabalhador pode sair e processar o banco
A rescisão indireta é quando o próprio trabalhador encerra o contrato porque o empregador cometeu faltas graves. E isso inclui:
- Pressão psicológica constante;
- Exposição a metas inatingíveis;
- Descumprimento do contrato de forma reiterada.
Nesses casos, você pode sair do banco e ainda ter direito a:
- Aviso prévio;
- Multa de 40% do FGTS;
- Liberação do saldo do FGTS;
- Seguro-desemprego;
- Indenização por danos morais, caso haja comprovação.
Como provar metas abusivas judicialmente?
Muita gente deixa de buscar seus direitos por medo de “não conseguir provar”. Mas a verdade é que existem várias formas de comprovação no direito do trabalho:
- Provas documentais (e-mails, metas fixadas, mensagens);
- Testemunhas (outros colegas ou ex-funcionários);
- Atestados médicos e laudos psicológicos;
- Relatórios internos da empresa (se disponíveis);
- Gravações ambientais, desde que não violem a privacidade de outros.
E se eu já fui demitido por não bater metas?
Mesmo se você já tiver sido desligado, ainda é possível entrar com uma ação. É comum que bancários sejam demitidos sob alegação de “baixa performance”, quando na verdade estavam sendo expostos a situações insustentáveis.
Nesse caso, é possível:
- Reverter a demissão como nula (se houver ilegalidade clara);
- Solicitar reintegração (em casos específicos);
- Entrar com ação por danos morais e materiais.
O custo de se calar pode ser alto demais
Você tem sentido que sua saúde piorou? Que não vê mais sentido no trabalho? Que vive com medo?
Isso não é normal. A vida não pode ser só meta, cobrança e medo de errar.
Se você chegou até aqui, é porque está buscando uma saída. E ela existe.
O momento certo de procurar ajuda é agora
Muitos bancários esperam demais para tomar uma atitude. Quando percebem, já estão adoecidos, com burnout ou depressão diagnosticada. O ideal é agir antes disso acontecer.
Falar com um advogado trabalhista de confiança pode ser o primeiro passo para mudar essa história — com segurança, com respaldo legal e com dignidade.