Foi dispensado sem receber tudo na obra? Veja como garantir seus direitos trabalhistas


Trabalhou na obra, foi dispensado e saiu sem nada? Você não está sozinho.

Imagine a cena: depois de semanas ou meses trabalhando sob sol forte, pegando peso, correndo risco de acidente e cumprindo ordens sob pressão, o encarregado vira pra você e diz que “acabou o serviço”. Sem aviso prévio. Sem carteira assinada. Sem pagar o que é seu por direito.

Essa realidade é mais comum do que parece nas construções civis de todo o Brasil. E se você chegou até aqui, é porque provavelmente está passando ou já passou por isso. A boa notícia é: você tem direitos. E eles podem — e devem — ser garantidos, mesmo que a empresa tente negar ou esconder.

Neste artigo, vamos conversar de forma direta e humana sobre o que a lei diz, como identificar abusos e quais caminhos existem para garantir o que é seu. Vamos nessa?


O que está acontecendo de errado nas obras?

A construção civil é um dos setores que mais gera empregos no Brasil. Mas também é um dos que mais registram irregularidades trabalhistas. O motivo? A informalidade e o desconhecimento dos próprios trabalhadores sobre seus direitos.

Veja algumas situações comuns:

  • Você começa a trabalhar e não assinam sua carteira.
  • Você cumpre jornada completa, mas não recebe hora extra.
  • Trabalha feriados e domingos, sem adicional.
  • É demitido e escuta “sem vínculo, sem acerto”.
  • Sai da obra com mãos calejadas, mas bolso vazio.

Se você se identificou com alguma dessas situações, atenção: isso é ilegal.


O que a lei garante ao trabalhador da construção civil?

Mesmo sem carteira assinada, você pode ter vínculo empregatício reconhecido na Justiça. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o artigo 7º da Constituição Federal e diversas decisões da Justiça do Trabalho garantem proteção ao trabalhador da obra.

Veja os principais direitos que você pode exigir:

  1. Reconhecimento do vínculo de emprego
    • Se você prestava serviços com habitualidade, subordinação e pessoalidade, a Justiça pode reconhecer o vínculo, mesmo sem registro em carteira.
  2. Salário atrasado ou não pago
    • O empregador deve pagar o salário até o 5º dia útil do mês. Se não pagou, cabe ação trabalhista para cobrança.
  3. Férias + 1/3 constitucional
    • Ao final de 12 meses trabalhados, você tem direito a 30 dias de férias remuneradas, com adicional de um terço.
  4. 13º salário proporcional
    • Trabalhou parte do ano? Tem direito proporcional ao décimo terceiro.
  5. FGTS + multa de 40%
    • Mesmo sem registro, é possível exigir o depósito do FGTS referente ao período trabalhado.
  6. Aviso prévio
    • Quando dispensado sem justa causa, tem direito a receber aviso prévio de no mínimo 30 dias — ou indenização se não for cumprido.
  7. Horas extras
    • Trabalhou além das 8 horas por dia ou 44 por semana? Deve receber hora extra com adicional de 50%.
  8. Adicionais de insalubridade e periculosidade
    • Se atuava com cimento, poeira, produtos químicos, altura ou riscos, pode ter direito a adicionais de 20% a 40% sobre o salário.
  9. Seguro-desemprego
    • Com o vínculo reconhecido, você pode ter acesso ao benefício.

Como saber se você foi lesado?

Você pode começar respondendo às seguintes perguntas:

  • Trabalhei mais de três dias por semana no mesmo local?
  • Recebia ordens diretas de um chefe ou encarregado?
  • Não podia mandar outra pessoa no meu lugar?
  • Usava uniforme ou equipamentos da empresa?

Se respondeu sim para essas perguntas, há fortes indícios de vínculo empregatício, mesmo sem registro formal.

E se a demissão foi feita sem pagamento dos direitos ou com ameaças para que você “não corra atrás”, é ainda mais urgente buscar ajuda.


Mas e se o patrão disser que era “bico”?

Isso é muito comum. Muitos empregadores se aproveitam da necessidade do trabalhador para esconder o vínculo. Alegam que era “freelancer”, “diarista”, “autônomo” ou “empreitada”.

Mas a Justiça do Trabalho olha a realidade da relação e não só o que está escrito (ou não escrito). Se você trabalhava com frequência, tinha horário, obedecia ordens e era parte da rotina da obra, isso é CLT, e não bico.


O que fazer para garantir seus direitos?

1. Reúna provas

Mesmo sem documentos, você pode comprovar o vínculo com:

  • Conversas de WhatsApp
  • Prints de mensagens ou áudios
  • Depoimentos de colegas
  • Fotos suas na obra
  • Comprovantes de pagamento (depósitos, PIX, etc.)

Essas provas ajudam — e muito — a convencer a Justiça de que você era empregado.

2. Procure um advogado trabalhista

Você tem até 2 anos após o fim do trabalho para entrar com ação, e pode cobrar até os últimos 5 anos trabalhados.

O advogado vai te orientar, reunir os documentos e entrar com o processo para:

  • Reconhecer vínculo
  • Calcular corretamente os valores devidos
  • Cobrar judicialmente tudo que não foi pago

3. Você não precisa pagar adiantado

A maioria dos advogados trabalhistas atua com pagamento somente no êxito. Ou seja, você só paga se ganhar a causa. Isso torna o acesso à Justiça muito mais viável para quem está sem dinheiro no momento.


E se eu tiver medo de me queimar com outros empregadores?

Essa é uma dúvida legítima e muito comum. Mas fique tranquilo: a ação é contra o antigo patrão, e você tem proteção legal. É proibido haver “lista negra” ou retaliações.

Além disso, exigir seus direitos é um ato de coragem e dignidade — e não de ingratidão.


Quando é a hora certa de buscar ajuda?

A resposta é simples: assim que você perceber que está sendo lesado. Quanto mais cedo agir, maiores as chances de recuperar seu dinheiro e evitar prejuízos maiores.

Se você foi dispensado da obra e percebeu que saiu de mãos vazias, não espere. Reúna as provas, anote tudo que lembra (datas, nomes, horários), e busque orientação jurídica confiável.


A sua força constroi prédios, mas não pode sustentar injustiças

Você já carregou cimento, colocou tijolo, levantou laje, suou o corpo inteiro para entregar uma obra que ficou de pé por causa de você.

Mas agora, é hora de construir sua própria defesa. Se a empresa não respeitou seus direitos, a Justiça pode — e deve — reparar isso.


Precisa conversar com alguém sobre seu caso?

Se você está nessa situação e não sabe por onde começar, saiba que não está sozinho. Um advogado trabalhista pode te ouvir com atenção, avaliar seu caso e orientar o melhor caminho — sempre com respeito, sigilo e empatia.

Seu esforço vale muito. E o que é seu por direito precisa ser garantido.

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