Insalubridade e sobrecarga na saúde: saiba quais são seus direitos e como se proteger

A realidade que muitos profissionais da saúde escondem
Você chega para mais um plantão. O cansaço é tanto que já virou parte da rotina. Máscara no rosto, luvas nas mãos, jaleco no corpo… e a alma, esgotada. Entre um paciente e outro, não dá tempo de comer, sentar ou sequer respirar com tranquilidade. O pior? Essa sobrecarga não é exceção. É regra. E, muitas vezes, acompanhada de condições insalubres.
Se você trabalha em hospital, clínica, posto de saúde ou ambulatório e sente que está chegando ao limite físico e emocional, este conteúdo é pra você. Vamos conversar, de forma direta e segura, sobre o que é permitido por lei — e o que é abuso. E, principalmente, como você pode se proteger.
O que está acontecendo com os profissionais da saúde?
Nos bastidores da saúde brasileira, a realidade é dura. Muitos trabalhadores são expostos diariamente a:
- Ambientes com risco biológico constante (sangue, secreções, vírus);
- Falta de equipamentos de proteção adequados;
- Jornadas exaustivas, com dobras de plantão e escalas irregulares;
- Acúmulo de funções sem o devido reconhecimento ou remuneração.
Essa combinação perigosa gera adoecimento físico e mental, e frequentemente passa despercebida por quem deveria proteger o trabalhador: o próprio empregador.
Como identificar se você está em uma situação insalubre?
A insalubridade, segundo a CLT (art. 189), ocorre quando o trabalhador está exposto a agentes nocivos à saúde acima dos limites permitidos pela legislação. Entre os mais comuns na área da saúde, estão:
- Agentes biológicos (bactérias, vírus, fungos);
- Produtos químicos utilizados em limpeza hospitalar ou esterilização;
- Radiações ionizantes;
- Ruído excessivo e temperaturas extremas.
Exemplos práticos do cotidiano:
- Você trabalha no setor de isolamento e não recebe adicional de insalubridade?
- Manipula materiais contaminados sem equipamento adequado?
- Atua em UTI ou centro cirúrgico e nunca teve avaliação ambiental do local?
Se respondeu sim a qualquer uma dessas situações, é hora de ficar atento: seus direitos podem estar sendo violados.
O que é adicional de insalubridade?
O adicional de insalubridade é um pagamento extra que deve ser feito ao trabalhador que atua em condições prejudiciais à saúde.
Os graus de insalubridade e seus percentuais:
- 10% (grau mínimo);
- 20% (grau médio);
- 40% (grau máximo).
A base de cálculo costuma ser o salário mínimo, mas tribunais têm reconhecido, em alguns casos, a aplicação sobre o salário base do trabalhador — o que aumenta significativamente o valor recebido.
E quanto à sobrecarga de trabalho?
A sobrecarga é ainda mais silenciosa. Muitos profissionais da saúde enfrentam:
- Plantões que ultrapassam 12h ou 24h com pouca ou nenhuma pausa;
- Falta de intervalos para descanso ou alimentação;
- Atribuições que fogem da função original do cargo.
Isso pode configurar condições análogas ao trabalho escravo moderno, segundo decisões recentes da Justiça do Trabalho, por expor o trabalhador a riscos desumanos.
A CLT garante:
- Jornada máxima de 8 horas diárias e 44 horas semanais;
- Intervalo mínimo de 1 hora para alimentação em jornadas superiores a 6 horas;
- Pagamento de horas extras com adicional de no mínimo 50%;
- Descanso semanal remunerado.
Quando isso não é respeitado, há violação grave dos seus direitos.
Quais são os seus direitos, na prática?
Você, profissional da saúde, tem respaldo legal em diversas frentes. Veja alguns dos principais fundamentos:
1. CLT – Consolidação das Leis do Trabalho
Garante o pagamento de adicionais, controle de jornada e limites de exposição.
2. Constituição Federal (art. 7º, XXII)
Assegura um ambiente de trabalho seguro, digno e saudável.
3. NR-15 do Ministério do Trabalho
Regulamenta quais atividades são insalubres e define os limites de tolerância.
4. Jurisprudência dos Tribunais Regionais e TST
Cada vez mais reconhece o direito de profissionais da saúde à reparação por danos causados por empregadores que ignoram as normas de segurança.
Como se proteger? O que fazer agora?
Se você se identificou com qualquer ponto até aqui, saiba que não está sozinho. E existem passos concretos que podem ser tomados:
1. Documente tudo
- Guarde escalas, plantões, fotos de condições precárias, mensagens sobre cobranças excessivas.
- Faça registros diários sobre sua rotina de trabalho.
2. Converse com colegas
- Muitas vezes, abusos acontecem em cadeia. Quando mais de um trabalhador relata a mesma situação, o caso ganha força.
3. Solicite a CIPA ou o SESMT da empresa
- Eles são responsáveis por avaliar riscos e condições de trabalho. Se não existirem, isso já é uma irregularidade.
4. Busque avaliação técnica
- Um engenheiro do trabalho pode realizar laudo de insalubridade, necessário para comprovar o direito ao adicional.
5. Procure um advogado especializado
- Ele poderá analisar o caso, levantar provas, entrar com ação judicial e garantir os valores devidos — inclusive retroativos dos últimos 5 anos.
Quando é hora de procurar ajuda jurídica?
Se você:
- Trabalha em local insalubre e não recebe o adicional;
- Está com a saúde mental ou física abalada pela rotina;
- Sente que está sendo explorado(a) ou coagido(a) no trabalho…
Então, a hora de procurar orientação jurídica é agora. Não espere que a situação piore. Seus direitos existem para te proteger — e justiça não é privilégio, é necessidade.
Você merece reconhecimento, não esgotamento
Ninguém entra para a área da saúde por acaso. É vocação. É entrega. Mas não pode ser à custa da sua própria saúde e dignidade.
Se você chegou até aqui, já deu o primeiro passo. Buscar informação é se fortalecer. E, se precisar, buscar seus direitos na Justiça não é exagero — é coragem.
Você não está sozinho.
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Se você sente que sua saúde ou dignidade estão sendo deixadas de lado no ambiente de trabalho, conversar com um advogado pode abrir caminhos para garantir justiça de forma discreta e segura. Às vezes, um simples esclarecimento já muda tudo.